Belo Monte desconsidera direitos indígenas, dizem
antropólogos
O processo de construção da Usina Hidrelétrica de Belo
Monte, no Rio Xingu (PA), não tem levado em conta os direitos e a voz dos povos
indígenas e das comunidades tradicionais da região. A crítica é de antropólogos
e lideranças indígenas.
A resistência dos índios kayapó e de comunidades
ribeirinhas, que desde a década de 1980 protestam contra a instalação de
projetos hidrelétricos no Xingu, não foram considerados pelo governo quando o
projeto foi retomado, de acordo com o líder indígena Marcos Terena
“Os governos não compreendem a linguagem indígena. Uma
hidrelétrica dessa envergadura agride o presente e o futuro das comunidades”,
disse hoje (7) durante seminário em Brasília.
Segundo o antropólogo e assessor do Instituto de Estudos
Socioeconômicos (Inesc), Ricardo Verdum, a questão indígena foi negligenciada
durante o processo de negociação de Belo Monte e a decisão de levar adiante a
construção da usina sem o consentimento dos kayapó fere tanto a Constituição
quanto regulamentações internacionais sobre direitos dos índios.
“Estão previstas a consulta e o consentimento das
comunidades para atividades econômicas em seus territórios. É preciso
sensibilizar o governo para que empreendimento seja paralisado e haja uma
discussão democrática da necessidade dessa obra, para que os povos tenham
direito de se manifestar”.
A presidenta da Associação Brasileira de Antropologia, Bela
Bianco, considera Belo Monte um caso “emblemático” na discussão de direitos indígenas.
“As comunidades atingidas mais uma vez não estão sendo ouvidas.”
No fim de janeiro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu uma licença de instalação
parcial que autoriza a construção do canteiro e outras obras preparatórias para
a usina.
Dias antes da autorização, o presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Márcio Meira, informou ao Ibama que, em relação a questões
indígenas, não havia obstáculos para a autorização. No entanto, ambientalistas
e lideranças do Xingu argumentam que pareceres técnicos do órgão indígena
alertavam para o não cumprimento de condicionantes previstas pelo Ibama na
licença prévia, o que impediria a continuidade do licenciamento ambiental de
Belo Monte.
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