Artigo:
Liberdade para Sakineh. Respeito para com a vida
Pedro Reis
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Sakineh Mohammadi Ashtiani |
Uma mulher, entre tantas no mundo que passam apuros terríveis, ficam mutiladas, suportam humilhações e preconceito, corre o risco de morrer.
Eu respeito profundamente o direito à diversidade em todas as suas manifestações, as culturas, os costumes, mas, não aceito a barbárie, venha de quem vier.
Maria Islaine de Moraes, foi morta pelo ex-marido e as câmeras do seu salão de beleza registraram a insanidade, Mércia Nakashima e Eliza Samúdio morreram e não se tem prova do autor, Maria da Penha, a da lei, ficou tetraplégica e isso não deveria mais ser notícia. Motivos torpes, todo ato de retirada da vida ou de incapacitação para viver plenamente tem um motivo torpe. Nada justifica.
Agora vem à tona o caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani, uma mulher iraniana, condenada à morte por suposto adultério e o mundo inteiro se levanta para defendê-la. Safiya Yakubu Hussaini e Amina Lawal Kurami ambas nigerianas estiveram a ponto de morrer apedrejadas.
A internet permite que hoje rapidamente, o mundo inteiro saiba o que acontece em qualquer lugar e isso é o prenúncio do fim das tiranias e dos exageros. Cabe-nos, manifestarmos nossa indignação, assumirmos a posição de defesa do direito dessas pessoas de forma tão clara quanto se fosse conosco.
Essas covardias acontecem em maior ou menor escala, todos os dias, mas devem cessar e a ferramenta é o protesto formal. Não só em favor das mulheres, mas para qualquer ser humano em situação de exclusão ou preconceito. Essa relação linear com a vida é que faz com que existam pessoas que acreditam que são superiores ou corretas, que o seu modo de ver a vida é que é verdadeiro e inquestionável.
Humildemente, não me cabe questionar os valores culturais, morais e religiosos do Irã, nem da Nigéria, nem de ninguém. Nem me cabe questionar os motivos interiores que culminaram nas barbaridades cometidas com as mulheres brasileiras citadas anteriormente.
E na mesma humildade pedir que sejamos muitos a não cometer nenhum tipo de violência contra quem quer que seja, por motivo algum, porque todos tem direito de ser e agir segundo sua consciência, mas respeitando o direito do outro. Para que não haja guerra é bastante depor as armas.
O governo brasileiro, que tem dado tantas mostras de integração com os povos do Oriente, da África, das Américas, pode oferecer asilo a esta senhora e pela diplomacia dar o exemplo. Oferecer sim, intercâmbio comercial, cultural e humanitário e exigir em troca o pleno respeito aos direitos humanos como condição primeira, sem hipocrisia. Nós temos cacife para isso.
O Mahatma Gandhi, em certa ocasião, recebeu de uma mãe o pedido de que ele dissesse ao filho dela que parasse de comer açúcar e o Mahatma, pediu-lhe para voltar uma semana depois. No regresso da mãe com o garoto, Gandhi olhou fixamente nos olhos do garoto e disse firme - Pare de comer açúcar. Ao que a mãe surpresa retrucou. - Mahatma, porque não falou isso na semana passada? E Gandhi respondeu - Na semana passada eu ainda consumia açúcar.
Vamos, portanto, engrossar o côro pela libertação imediata de Sakineh Mohammadi Ashtiani, mostrando que não somos coniventes com nenhuma manifestação de violência, para termos autoridade moral de acabar com as violências. Construir o mundo dos sonhos só é possível com as pequenas atitudes de cada um.
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Pedro Reis, é o editor do Farol Comunitário. Artigo trasncrito do site do Farol Comunitário.