Dilma Rousseff afirma, já como presidente eleita:
"Sim, a mulher pode"
Em seu primeiro pronunciamento como presidente eleita do Brasil, realizado neste domingo (31) em Brasília, a petista Dilma Rousseff prometeu "honrar as mulheres brasileiras" para que um fato como sua eleição "se torne um evento natural" e se amplie para o restante da sociedade.
Depois de vencer a disputa pelo Palácio do Planalto com mais de 55 milhões de votos, a ex-ministra-chefe da Casa Civil parafraseou o slogan "Yes, we can" do presidente norte-americano Barack Obama.
"Eu gostaria muito que os pais e as mães das meninas pudessem olhar hoje nos olhos delas e dizer: sim, a mulher pode", afirmou Dilma, que chega ao Palácio do Planalto com mais de 55 milhões de votos.
"Recebi de milhões de brasileiros e brasileiras talvez a missão mais importante da minha vida, e esse fato, para além da minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do Brasil, porque pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil", disse.
Durante seu discurso, a ex-ministra-chefe da Casa Civil elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reafirmou propostas de campanha, incluindo sua principal promessa: a erradicação da miséria.
"Essa ambiciosa meta não será realizada só pela vontade de governo, mas é um chamado à sociedade brasileira e a todas as pessoas de bem desse país. Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando na rua", disse.
"A erradicação da miséria é uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente ajuda de todos para superar esse abismo que nos separa de uma nação desenvolvida", afirmou.
Ao falar sobre a atuação de seu futuro governo na ecomomia, Dilma falou em cuidar da área "com toda a responsabilidade".
Depois de dizer que a crise nos países do mundo desenvolvido não ajudará o país a crescer, a petista afirmou que se tornam "ainda mais importantes" o mercado interno e "nossas próprias políticas e decisões econômicas".
"Estou longe de dizer que com isso vamos nos fechar para o mundo, pelo contrário", disse.
A semelhança de seu mentor, o presidente Lula, Dilma se comprometeu a manter inalterados alguns fundamentos da economia.
"O povo não aceita mais a inflação como solução irresponsável. O povo brasileiro não aceita que o governo gaste acima do que seja sustentável", disse a petista, sem citar seu rival, José Serra (PSDB), nem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujo Plano Real acabou com a hiperinflação no país.
A presidente eleita também falou do pré-sal, e disse que irá "se empenhar" para que o Congresso aprove o marco regulatório do setor.
"Trabalharei no Congresso para a aprovação do Fundo Social do pré-sal e do marco regulatório do modelo de partilha do pré-sal", disse.
"Não alienaremos nossas riquezas para deixar ao nosso povo só as migalhas", afirmou ela, que prometeu ainda lutar por uma reforma política "que eleve os valores republicanos".
"Vou acompanhar pessoalmente essas áreas capitais para o desenvolvimento do país", disse.
Em uma tentativa de aproximação, a presidente eleita agradeceu a seus eleitores e àqueles que votaram no adversário.
"Eles também fizeram valer a festa da democracia. Estendo minha mão a eles. De minha parte, não haverá discriminação, privilégios ou compadrio", afirmou ela, que também prometeu "zelar pela mais ampla e irrestrita liberdade de religião e liberdade de culto" no país.
Durante a campanha, Dilma foi acusada pelo rival de mudar de posição quanto à legalização do aborto, e o assunto logo se transformou na principal discussão do segundo turno do pleito. Analistas dizem que, por conta da suposta mudança de opinião, a petista perdeu votos para o eleitorado evangélico e teve a vitória adiada no primeiro turno.