O que a vinda de Obama pode ensinar ao Rio
Estamos finalmente deixando lentamente a inércia e começando
a mudar o cenário com um planejamento urbano mais democrático
A visita de Barack Obama ao Brasil parece ter tido seu
momento mais dramático no Rio de Janeiro. Ou melhor, nos dias que anteciparam
sua chegada. A expectativa natural que cercava a vinda do presidente
norte-americano pouco a pouco foi perdendo lugar para as questões de logística
e segurança implicadas na visita.
O discurso, que deveria acontecer na Cinelândia, foi
transferido para o Teatro Municipal e transformou-se num evento fechado,
restrito a convidados. A visita à Cidade de Deus seria um dos pontos altos da
sua passagem no Brasil. Afinal, daria visibilidade - dessa vez de forma positiva
- à comunidade, em consonância com a atual politica de pacificação em curso no
Rio de Janeiro.
Mas em nome da segurança da comitiva americana, uma série de
restrições foi imposta aos moradores de Cidade de Deus que se sentiram
discriminados e pouco respeitados pela organização. No meio de tudo isso, a
Central Única de Favelas (CUFA) rompeu com os responsáveis pelo evento, e
outras lideranças comunitárias também manifestaram sua insatisfação, alegando
que a visita estava maquiando o bairro e segregando os moradores.
Deixemos de lado (pelo menos por enquanto) a parte da
estratégia de segurança creditada à Casa Branca – segundo consta, até ministros
brasileiros foram revistados.
Por que Obama vai ao Rio e não a São Paulo, a Belo Horizonte
ou a Salvador? Porque o Rio de Janeiro é lindo, porque o Rio de Janeiro é o
cartão postal do Brasil. Mas também porque o Rio, assim como muitas cidades
brasileiras, é um cenário repleto de contradições. O Rio tem Copacabana e tem
Cidade de Deus e tal diversidade, ao mesmo tempo em que expressa profundas
desigualdades sociais, faz parte da beleza carioca. Tais contradições não
devem, portanto, ser varridas para baixo do tapete.
Não é de hoje que o Rio faz uso da segregação como
estratégia de segurança. Os preparativos para os Jogos Panamericanos foram
amplamente acusados de terem promovido uma verdeira limpeza social que incluiu
a remoção de favelas e de moradores de rua para garantir a sensação de
segurança.
As cidades brasileiras são extremamente desiguais. Em muitas
delas, e o caso do Rio está incluído, parece que estamos finalmente deixando
lentamente a inércia e começando a mudar esse cenário com um planejamento
urbano mais democrático e capaz de promover segurança também como um direito à
cidade.
Eventos como os Jogos Panamericanos, a visita de Obama, as
Olimpíadas, a Copa do Mundo, não podem ser um retrocesso. Seu potencial de
transformação e redução de desigualdade reside justamente no envolvimento das
comunidades e não na sua segregação.
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