terça-feira, 22 de março de 2011


O que a vinda de Obama pode ensinar ao Rio

Estamos finalmente deixando lentamente a inércia e começando a mudar o cenário com um planejamento urbano mais democrático


A visita de Barack Obama ao Brasil parece ter tido seu momento mais dramático no Rio de Janeiro. Ou melhor, nos dias que anteciparam sua chegada. A expectativa natural que cercava a vinda do presidente norte-americano pouco a pouco foi perdendo lugar para as questões de logística e segurança implicadas na visita.
O discurso, que deveria acontecer na Cinelândia, foi transferido para o Teatro Municipal e transformou-se num evento fechado, restrito a convidados. A visita à Cidade de Deus seria um dos pontos altos da sua passagem no Brasil. Afinal, daria visibilidade - dessa vez de forma positiva - à comunidade, em consonância com a atual politica de pacificação em curso no Rio de Janeiro.
Mas em nome da segurança da comitiva americana, uma série de restrições foi imposta aos moradores de Cidade de Deus que se sentiram discriminados e pouco respeitados pela organização. No meio de tudo isso, a Central Única de Favelas (CUFA) rompeu com os responsáveis pelo evento, e outras lideranças comunitárias também manifestaram sua insatisfação, alegando que a visita estava maquiando o bairro e segregando os moradores.
Deixemos de lado (pelo menos por enquanto) a parte da estratégia de segurança creditada à Casa Branca – segundo consta, até ministros brasileiros foram revistados.
Por que Obama vai ao Rio e não a São Paulo, a Belo Horizonte ou a Salvador? Porque o Rio de Janeiro é lindo, porque o Rio de Janeiro é o cartão postal do Brasil. Mas também porque o Rio, assim como muitas cidades brasileiras, é um cenário repleto de contradições. O Rio tem Copacabana e tem Cidade de Deus e tal diversidade, ao mesmo tempo em que expressa profundas desigualdades sociais, faz parte da beleza carioca. Tais contradições não devem, portanto, ser varridas para baixo do tapete.
Não é de hoje que o Rio faz uso da segregação como estratégia de segurança. Os preparativos para os Jogos Panamericanos foram amplamente acusados de terem promovido uma verdeira limpeza social que incluiu a remoção de favelas e de moradores de rua para garantir a sensação de segurança.
As cidades brasileiras são extremamente desiguais. Em muitas delas, e o caso do Rio está incluído, parece que estamos finalmente deixando lentamente a inércia e começando a mudar esse cenário com um planejamento urbano mais democrático e capaz de promover segurança também como um direito à cidade.
Eventos como os Jogos Panamericanos, a visita de Obama, as Olimpíadas, a Copa do Mundo, não podem ser um retrocesso. Seu potencial de transformação e redução de desigualdade reside justamente no envolvimento das comunidades e não na sua segregação.

0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar!Seu comentário será publicado em poucos minutos...
(Não publicamos comentários ofensivos de qualquer espécie)