quarta-feira, 7 de julho de 2010

CESAR MAIA

ESPERANÇA X MEDO - ALTERNÂNCIA E DEMOCRACIA

Em campanhas eleitorais é muito comum a disjuntiva esperança x medo, quando os candidatos as atribuem uns aos outros riscos quanto ao futuro, de forma a aportar insegurança nos eleitores. John del Cecato,
estrategista do Partido Democrata na eleição de Obama, estabeleceu um principio: “a esperança vende mais que o medo”.

Paradoxal é o caso brasileiro. Por anos, durante as seguidas tentativas desde 1989, Lula respondia com seu jingle a seus adversários que lançavam sobre ele uma nuvem de insegurança e medo: “Lula-lá, cresce a esperança”. Curioso paradoxo. O que parecia um preconceito em relação ao candidato operário apoiado pelas esquerdas era, na verdade, uma velha fórmula aplicada por candidatos do governo contra os da oposição.

Collor não foi exceção, apoiado que era pela direita no governo. Já na eleição de 2006, esses sinais começaram a ficar claros, no segundo turno, quando o tema privatização foi lançado pela campanha do governo para gerar insegurança em relação a Alckmin.

Na atual campanha, aquela disjuntiva volta. Quem está no governo se dirige à oposição com o velho e surrado discurso do medo. Medo de que o programa Bolsa Família seja descontinuado, de que novas privatizações poderão vir etc. A mesma lógica lançada contra Lula pelos governos é agora lançada por seu governo contra a oposição: emplacar no eleitorado a sensação de medo quanto ao futuro. Antes, e agora também, a oposição procura reagir da mesma forma, dizendo que nada disso é verdade e que tais ou quais vetores terão continuidade.

Quanto mais fortes as instituições democráticas, mais desmoralizada é essa apelação ao medo que fazem os governos reiteradamente. Esperança é a metáfora usada pelas oposições – aqui e alhures - para tratar de mudança. E o eleitor pode perceber assim. Os governos – seus candidatos - traduzem o discurso da oposição por mudança em insegurança para o eleitor. Numa situação de crise é fácil desmontar a bandeira do medo. Numa situação de normalidade não é tão fácil.


* Cesar Maia – economista, ex-prefeito do Rio de Janeiro.

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