sexta-feira, 22 de outubro de 2010

CNBB: bispos têm direito de orientar fiéis sobre candidatos


O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Geraldo Lyrio Rocha, disse nesta quinta-feira (21) que, independentemente das polêmicas, os bispos têm o direito e o dever de orientar os fiéis sobre determinados candidatos que concorrem nas eleições de 2010.
O religioso disse que há uma compreensão inexata do conceito de um Estado laico e opinou não haver problema em determinados padres pedirem que os católicos não votem em um candidato específico, por exemplo, que se manifeste em defesa do aborto.
Líder nas pesquisas de intenção de votos no primeiro turno, a petista Dilma Rousseff teve integrantes de sua campanha atribuindo a não vitória no primeiro turno a supostos boatos de que a presidenciável era favorável à descriminalização do aborto.
"A Igreja se escultura a partir das dioceses, uma determinada porção de fieis que estão ali agrupados em torno de um pastor, que é o bispo. Acima do bispo, no governo da igreja, só existe uma autoridade, o papa. A CNBB não é um organismo para interferir nas dioceses ou se for o caso repreender. A CNBB não é uma instância colocada acima das dioceses. Na diocese, o bispo tem plena autonomia, ele tem o direito e até o dever de, de acordo com sua consciência, orientar seus fieis do modo que julga mais eficaz, mais eficiente", disse o religioso, minimizando a distribuição de panfletos anti-Dilma pelo bispo de Guarulhos (SP), Luiz Gonzaga Bergonzini.
O presidente da CNBB observou ainda que os bispos podem difundir critérios para que o eleitor cristão exerça o voto, desde que não se dirija à nação brasileira, e sim aos fieis de sua diocese.
"Ele Bergonzini está no pleno exercício de seus direitos como bispo diocesano de Guarulhos. Tanto é que ele não se dirigiu à nação brasileira, se dirigiu a seus diocesanos. O procedimento está absolutamente dentro da normalidade, de como as coisas se encaminham. Os bispos independentemente podem fazer suas escolhas. Falam em nome pessoal ou na qualidade de pastores de sua diocese', disse, avaliando que não houve racha pelo fato de setores da Igreja terem encampado uma cruzada anti-aborto, pregando voto contra Dilma Rousseff, e outros terem se mantido alheios à essa polêmica.
"Acho que a Igreja não saiu rachada coisa nenhuma. Teria havido um racha se naquilo que é fundamental as posições estivessem distanciadas. E isso não houve, ninguém está defendendo aborto. Mas num País como o nosso, em uma conferência com 450 bispos, é perfeitamente compreensível que alguém coloque uma acentuação maior em determinado tema. Não é porque eu discordei de você que temos que interpretar que houve um racha", observou.
"Mesmo que tenha havido uma acentuação maior aqui e ali, esses temas foram postos na pauta das eleições de 2010. O estranho seria se estivéssemos chegando ao final do segundo turno sem discutir assuntos dessa importância", completou Dom Geraldo.
De acordo com o presidente da CNBB, impedir que discussões sobre o aborto, por exemplo, tenham espaço durante o processo eleitoral equivaleria a se estabelecer uma "ditadura laica". "Estado laico não é Estado ateu ou anti-religioso ou arreligioso. De fato o Estado brasileiro é laico, mas a sociedade brasileira é profundamente religiosa. Não estou dizendo católica. Esse argumento de que o Estado é laico às vezes é mal utilizado. As religiões devem ter seu direito de expressar seu ponto de vista. Por que a Igreja não pode expressar seu ponto de vista acerca dessas questões? Um Estado laico deve garantir o direito de a Igreja Católica e de outras religiões. Se não, não vamos cair em um Estado laico, vamos cair em uma ditadura laica", disse.
A CNBB, que lançou nesta quinta o material da Campanha da Fraternidade 2011, negou que seu tema e lema - A criação geme em dores de parto e Fraternidade e a Vida no Planeta - tenham relação com as eleições brasileiras ou com as presidenciáveis Marina Silva (PV) e Dilma Rousseff (PT). "Atribuir isso seria demais porque agora é que estamos fazendo o lançamento. Não sou muito de coincidências, não. Faz parte de um processo, de uma dinâmica. É uma agenda que está na ordem do dia e as eleições coincidiram", disse o presidente da CNBB.

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