Rio de Janeiro: cidade sob o CAOS
Policiais do Bope realizam operação na favela da Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio de Janeiro, com a ajuda de veículos blindados da Marinha * Jadson Marques |
Criminosos queimaram um carro no Elevado Paulo de Frontin, no Rio Comprido, zona norte do Rio. Quatro ônibus também foram incendiados * Marco Antonio Teixeira |
Ônibus incendiado na rua Ferreira de Andrade, no Méier * Guilherme Pinto |
O alvo da principal operação das forças de segurança é a favela Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, zona norte, um dos grandes redutos de criminosos da facção criminosa acusada de comandar os ataques a veículos e alvos polícias esta semana em vários pontos da cidade, informou a polícia.
Ao menos 10 veículos militares blindados da Marinha com metralhadoras, que nunca foram usados nos combates em favelas da cidade, transportam soldados do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) para o interior da favela.
Blindados do Bope, conhecidos como "caveirão", também foram utilizados.
Imagens aéreas de tevê mostraram dezenas de traficantes armados fugindo da Vila Cruzeiro à pé, de moto e de carro, por uma estrada de terra que leva para o Complexo do Alemão.
"O objetivo de hoje é assumir o território novamente que foi tomado pelo tráfico.
Estamos tomando esse local e retirando da sociedade essa situação de refém do tráfico", afirmou o coronel Álvaro Rodrigues, chefe do Estado-Maior da PM e comandante da operação.
Segundo o coronel, a operação com 350 homens não tem prazo para acabar.
Na quarta-feira, os "caveirões" tiveram dificuldades para entrar na favela devido a barricadas construídas pelos criminosos. Nesta quinta, outras barreiras, inclusive com fogo, foram erguidas nos caminhos para chegar à favela, e um carro foi incendiado no principal acesso da Avenida Brasil para o Complexo da Penha, impedindo momentaneamente a passagem de carros. As tropas, no entanto, já tinham passado.
"Nós não temos prazo para encerrar as operações. Vamos continuar com o apoio logístico e de veículos blindados para o transporte de tropas da polícia pelo tempo que for necessário", disse à Reuters o coronel Carlos Chagas, comandante do batalhão logístico da Marinha.
Segundo o coronel, os fuzileiros navais participam da ofensiva apenas na operação dos veículos blindados, que foram ocupados por homens do Bope.
As metralhadoras de alto calibre que estão no topo dos veículos não serão usadas, segundo a Marinha.
Ruas ficaram desertas e o comércio da região foi fechado por medo da violência.
Alguns moradores da Vila Cruzeiro acenavam com lençóis brancos pelas janelas de suas casas. Ao menos 20 escolas da zona norte tiveram as aulas suspensas por preocupação com a segurança de alunos e professores.
Universidades na zona norte também cancelaram as aulas.
Ao menos 58 veículos, entre carros, ônibus e vans, foram incendiados pelos criminosos desde domingo, quando foi deflagrada a onda de ataques a veículos e alvos policiais na cidade e região metropolitana.
Durante as ações desta quinta, mais veículos foram queimados em diversos pontos da cidade.
De acordo com a PM, morreram ao menos 30 suspeitos em confrontos com policiais em três dias de operações em favelas, com mais de mil homens envolvidos, em reação aos ataques.
Nesta quinta, a polícia permanece com ações em diversas comunidades controladas pelo crime organizado, além da Vila Cruzeiro.
Além dos suspeitos, durante uma incursão do Bope na Vila Cruzeiro na quarta, uma adolescente de 14 anos foi atingida por uma bala perdida dentro de casa e morreu no hospital.
Outros moradores também foram feridos por balas e levados para o principal hospital da região, segundo a Secretaria de Saúde do Estado.
Na operação desta quinta, ao menos cinco moradores da Vila Cruzeiro ficaram feridos e foram atendidos num hospital, segundo a secretaria.
Autoridades da área de segurança consideram que essas ações violentas são uma resposta à nova estratégia implementada na capital com as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), que provocaram a saída de chefes do tráfico de favelas onde esse tipo de policiamento foi instaurado.
Acuado e forçado a deixar algumas áreas da cidade, o crime organizado estaria reagindo.
A implantação das UPPs em 15 das centenas de favelas espalhadas pela cidade é considerada o maior avanço na área de segurança pública da capital fluminense nos últimos anos, e a medida foi inclusive citada pelo Comitê Olímpico Internacional como um exemplo de que a cidade será segura para a Olimpíada de 2016. O Rio também será palco central da Copa do Mundo de 2014.
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