Câmara barra volta dos bingos
Em uma sessão de alta voltagem verbal, marcada por
discussões - e até acusações -, a Câmara dos Deputados barrou nesta
terça-feira, 14, projeto de lei que autorizava a atividade de bingos, por 212
votos contra, 144 a
favor e 5 abstenções.
O texto final, que excluía as máquinas caça-níqueis e previa
a destinação de receita para áreas como saúde e segurança, seguiria para o
Senado Federal e sanção presidencial, caso fosse aprovado.
redação rejeitada pela Câmara previa a legalização dos
bingos, determinando que as casas tivessem dispositivos interligados à Receita
Federal e ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para
permitir o controle da movimentação financeira e impedir a lavagem de dinheiro.
Os estabelecimentos deveriam ficar localizados a pelo menos 300 metros de distância de escolas
e templos religiosos.
A licença e fiscalização dos jogos caberiam ao Ministério da
Fazenda, por meio da Receita Federal do Brasil, com apoio da Polícia Federal.
As promessas, no entanto, não convenceram os parlamentares, que demonstraram
preocupação com o destino do dinheiro arrecadado e eventual benefício ao crime
organizado.
Na semana passada, a Câmara aprovou o regime de urgência do
projeto. De um lado, a bancada da oposição (PSDB, DEM e PPS) se posicionou
contra a legalização dos bingos; de outro, PMDB, PR, PP, PDT, PTB e PMN
declaram voto a favor. Da bancada governista, PT, PSB, PC do B liberaram o
voto.
"Não é o momento adequado, temos temas mais profundos,
precisamos de um tempo maior para analisar uma atividade de alto risco",
criticou o deputado José Genoino (PT-SP). O futuro ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, compareceu ao plenário e também votou contra. Em entrevista ao
Estado, Cardozo disse que a legalização dos bingos "traz mais malefícios
do que benefícios e permite a lavagem do dinheiro."
"A propina tá rolando solta no Congresso
Nacional", acusou o deputado Fernando Chiarelli (PDT-SP), questionando a
idoneidade dos parlamentares que se posicionaram pela legalização dos bingos.
Seu colega de partido, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente
da Força Sindical, foi um dos maiores entusiastas da aprovação, alegando que a
proposta estimularia a criação de empregos. "Nas Américas, só Brasil e Cuba
não legalizaram, portanto eu pergunto: só nós estamos certos?", afirmou
Paulinho à imprensa, antes da votação.
Para Ivan Valente (PSOL-SP), havia assuntos mais importantes
para serem colocados em pauta em pleno fim de ano. "Não é de interesse
público (a votação do projeto dos bingos), devíamos ter votado o Plano Nacional
de Educação, assistência farmacêutica integral, mas estamos aqui votando bingo.
Não é de interesse do povo brasileiro", condenou.
O projeto barrado
pela Câmara determinava que 14% da receita fosse destinada para a área de
saúde, 1% para segurança pública, 1% para esporte e 1% para cultura. Previa que
os estabelecimentos tivessem fachada discreta, sem exibir ao exterior as
atividades e impedissem a entrada de menores de 18 anos, mesmo acompanhados dos
pais, e de pessoas viciadas em jogos de azar (ludopatas), que deveriam ser
listadas em um cadastro nacional.
A premiação dos bingos deveria ser, no mínimo, de 70% do
valor arrecadado com a venda de cartelas; no caso de videobingos (realizado em
monitor de vídeo, com exibição de números, figuras, bolas), o valor seria, no
mínimo, de 80% dos ingressos totais vendidos a cada 10 dias.
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