Ministra da Cultura vai rever
a nova Lei do Direito Autoral
Com discurso cauteloso, a
cantora Ana de Hollanda conversou ontem com a imprensa, no Rio, sobre sua
nomeação para o Ministério da Cultura do governo Dilma Rousseff.
A partir de janeiro, Ana vai
comandar uma pasta que, nos cinco anos e meio da gestão de Gilberto Gil e nos
dois anos e meio da de Juca Ferreira, ganhou atenção, mas ainda não chegou ao
orçamento de 1% que prometera o presidente Lula em seu primeiro mandato. O MinC
alega que a verba da pasta em 2010 foi de 1,27%, mas o GLOBO mostrou em
reportagem publicada em outubro que o cálculo não considera todas as receitas
do Orçamento da União e que o percentual real é de 0,23% do total.
O aumento da verba é
prioridade da futura ministra, que quer se aproximar das estatais para
incrementar os investimentos em cultura. Outro ponto abordado por ela é a nova
Lei do Direito Autoral, que o ministério pôs em consulta pública em julho. Ana
deixou claro que vai rever o texto e que não é a favor de o governo controlar o
Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), como defendeu o MinC
na gestão atual. A seguir, os principais temas da entrevista:
Convite para o MinC:"O
convite mesmo só foi feito há dois dias. Na conversa com a presidenta, ela falou
que gostaria muito que eu me aproximasse da classe artística."
Gestão anterior:"Eu
reconheço nas gestões do Gilberto Gil e do Juca Ferreira um trabalho de
penetração ao qual vou dar prosseguimento. Em todo o território nacional existe
uma presença do MinC que não existia há oito anos. Há também várias outras
áreas que podem ser destacadas, como a criação do Instituto Brasileiro de
Museus e os Pontos de Cultura. Não quero interromper as coisas boas."
Apoio de artistas a Juca
Ferreira: "Eu respeito as preferências das pessoas. Mas uma coisa é
ter preferência, outra coisa é dialogar com quem está aqui. Quero manter um
diálogo intenso com a classe artística. E não sinto nenhuma resistência aberta
a meu nome."
Reação da classe
cinematográfica contra Juca ferreira: "Eu quero ouvir o pessoal do
cinema e falar com a Agência Nacional de Cinema. Quero entender onde está o
incêndio. É um assunto com sutilezas sobre o qual preciso me inteirar."
Nova Lei do Direito
Autoral: "É uma questão polêmica, tanto que o MinC não mandou o texto
para o Congresso porque faltava uma aprovação da sociedade. Precisamos rever a
nova Lei do Direito Autoral. Eu pretendo chamar juristas e pessoas da sociedade
para apontar onde há problemas e quais são os problemas. Não é possível que sejam
feitas mudanças radicais de uma hora para outra. Hoje você já pode ceder sua
música e abrir mão de seus direitos. Agora, se isso deve ser uma coisa
obrigatória ou não, aí já é outra coisa. A flexibilização generalizada é uma
questão delicada e acho que a lei atual já contempla bastante o tema."
Ecad: "O Ecad é uma
associação de autores, então não vejo a possibilidade de subordinar uma
entidade como o Ecad ao governo. Mas não estou dando uma posição final sobre a
nova Lei do Direito Autoral. Só tenho certeza de que é preciso uma revisão, e
acho que o MinC já havia percebido isso."
Orçamento do MinC:"Com a
maior inserção social do governo Lula, o nível cultural das classes C e D foi
elevado, o que aumenta a necessidade de verbas para a Cultura. Eu não conversei
diretamente com a presidenta Dilma sobre o tamanho do orçamento, mas lembrei
que o valor ainda é pequeno. Vamos buscar uma aproximação com as estatais para
que se trabalhe em conjunto com o ministério. São verbas altas, e pretendemos
integrar os projetos das estatais ao MinC."
Futuro do MinC: "O
ministério trabalhou muito bem para usar a cultura como fator de inclusão
social. Mas agora temos que prosseguir. O grande centro da cadeia produtiva da
cultura está na área da criação, que é uma característica essencial do povo
brasileiro. É preciso dar atenção à difusão da criatividade brasileira não só
no país, mas também no exterior. Temos que usar a cultura em todas as áreas,
buscando integração com outros ministérios."
Equipe e Antônio
Grassi: "Estou conversando com várias pessoas sobre a composição do
ministério. E também quero pessoas que estão no MinC hoje. Será uma gestão de
continuidade, mas com outras visões e prioridades. Sobre o Grassi, ele é um
quadro maravilhoso. Eu gostaria muito de tê-lo no MinC".
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