Ferraz acusa Turnowski de boicotá-lo e esvaziar
investigações ao seu redor
Delegado da DRACO diz que ex-chefe de Polícia tentou tirá-lo
do cargo e o denunciou a Beltrame por supostos crimes
Um dos protagonistas da crise da Polícia Civil do Rio e
responsável por parte das investigações que levaram à prisão de 30 policiais na
operação Guilhotina, da Polícia Federal, o delegado titular da DRACO (Delegacia
de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), Cláudio Ferraz, afirmou que o
chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski, tentou inúmeras vezes tirá-lo da
função e esvaziar investigações contra seus aliados – alguns desses policiais
próximos a Turnowski foram presos pela Guilhotina.
De acordo com depoimento formal de Ferraz à Corregedoria
Interna da Polícia Civil, no dia 14, Turnowski chegou a denunciar boatos sobre
supostos crimes atribuídos a Ferraz ao secretário de Segurança, José Mariano
Beltrame. Nesta segunda-feira, após a operação Guilhotina, o então chefe de
Polícia determinou uma correição extraordinária na DRACO, sob suspeita de
extorsão a prefeituras.
Não era novidade para Ferraz. Ele disse que Turnowski
pretendeu diminuir seus poderes e a sua capacidade de investigação desde que
assumiu o comando da corporação. Na última quinta-feira, a DRACO – uma delegacia
de destaque – saiu da estrutura da Polícia Civil e foi transferida para a
esfera da Secretaria de Segurança, ligada diretamente ao secretário, José
Mariano Beltrame.
O delegado disse em depoimento que a perseguição aumentou
quando foi lançado o livro “Elite da Tropa 2” ,
com ênfase em milícias e do qual Ferraz é co-autor. Segundo ele, passou a ser
alvo de ataques e boatos no âmbito da corporação, sendo visto por alguns grupos
como “traidor”, por expor problemas da Civil e escrever o livro ao lado de dois
policiais militares.
Em seu depoimento, Ferraz diz que “tem ciência de que após a
edição de sua obra [Elite da Tropa 2], por diversas vezes, o atual chefe de
polícia [Turnowski só saiu no dia seguinte à declaração] tentou retirá-lo da
titularidade da DRACO, o que somente não se efetivou por circunstâncias alheias
à sua vontade”.
Segundo ele, ao assumir a chefia de Polícia, Turnowski “o
convidou para assumir o Departamento Geral de Polícia Técnica e Científica –
com o objetivo de retirá-lo das investigações desencadeadas para identificação
e prisão de milicianos e outros membros de organizações criminosas”.
Cláudio Ferraz insinuou que Turnowski centralizou em janeiro
as interceptações telefônicas na Coordenadoria de Inteligência Policial, com o
objetivo de conhecer e controlar as informações obtidas pela equipe da DRACO e
de outras delegacias. Ele afirmou ter sido procurado por uma jornalista
questionando se a delegacia estava investigando o chefe (Allan Turnowski) e o
subchefe (Carlos Oliveira) de Polícia Civil, baseada em informação “do alto
escalão da chefia da Polícia Civil”.
“Coincidência ou não, no início de janeiro deste ano, o
atual chefe da Polícia Civil editou uma portaria cujo conteúdo determina a
transferência de todas as interceptações telefônicas em andamento para um setor
da Polícia Civil chamado Cinpol – Coordenadoria de Inteligência Policial), com
o provável objetivo de conhecer previamente a rotina e o conteúdo de
informações policiais em tramitação”, disse em depoimento.
Ferraz comentou que “uma onda de boatos” contra ele se intensificaram a partir
de outubro de 2010 “ventilados na imprensa e nos corredores das delegacias”.
Foi acusado de receber dinheiro de casas de aborto, de receptação de roubos e
furtos de objetos de ouro e extorsões a prefeitos municipais.
De acordo com ele, as acusações eram de que “existia uma
filmagem em vídeo na qual o inspetor Gherard, [chefe de investigações] da DRACO
receberia a quantia de R$ 1 milhão; caso de extorsão do prefeito de Rio das
Ostras, sem valor declarado; existência de R$ 1 milhão em propinas guardadas no
interior da residência do declarante [Ferraz]; que a DRACO seria a delegacia do
Estado que realiza as maiores “mineiras” [extorsões]”.
De acordo com policiais, Ferraz seria “explodido” nesta
semana. Ferraz disse ter procurado o secretário Beltrame e lhe informado sobre
os boatos. De acordo com ele, “Beltrame já tinha ouvido e que alguns desses
expedientes teriam sido encaminhados diretamente pela chefia da Polícia Civil
[Allan Turnowski]”.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar!Seu comentário será publicado em poucos minutos...
(Não publicamos comentários ofensivos de qualquer espécie)