Abraji e Transparência Brasil se retiram de seminário do Arquivo
Nacional e acusam órgão de censura
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)
e a organização Transparência Brasil cancelaram a participação no seminário
organizado pelo Memórias Reveladas - órgão subordinado ao Arquivo Nacional -
para tratar do direito ao acesso a documentos públicos.
As entidades argumentam que o órgão impede ou dificulta o
acesso a documentos do período da ditadura militar.
O projeto Memórias Reveladas foi criado em 2009 por Dilma
Rousseff, à época ministra-chefe da Casa Civil, para facilitar o acesso a esse
tipo de documentação.
“A instituição [Arquivo Nacional] tem agido de forma
incompatível com a própria motivação do seminário em questão”, afirmou Claudio
Weber Abramo, diretor-executivo da Transparência Brasil, em carta enviada ao
diretor-geral do Arquivo Nacional.
De acordo com os historiadores Jessie Jane e Carlos Fico, o
Arquivo Nacional estava restringindo o acesso a documentos da ditadura militar
sob a alegação de que jornalistas estariam fazendo uso indevido das
informações, buscando dados de políticos envolvidos na campanha eleitoral.
Segundo Carlos Fico, o fato foi presenciado por uma
orientanda sua na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que não
conseguiu obter acesso aos documentos que procurava.
Jane Vieira afirma também que o projeto se desvirtuou da sua
ideia original e passou a burocratizar o acesso aos documentos.
O coordenador-geral do Memórias Reveladas e presidente do
Arquivo Geral, Jaime Antunes da Silva, negou que haja censura ou uma política
de restrição ao acesso dos documentos.
Segundo ele, o que houve no episódio da orientanda foi uma
tentativa de agilizar o acesso aos dados que acabou sendo interpretada como uma
restrição.
Para o jornalista Fernando Rodrigues, presidente da Abraji, colunista
do UOL e da Folha de S. Paulo, a falta de transparência no acesso a informações
públicas é um traço da cultura brasileira e reflete a incipiência da democracia
no país.
“Vigora no Brasil a cultura da opacidade. Na dúvida [se pode
divulgar um documento], o agente público decide não divulgar”, afirma.
“A democracia no Brasil é uma criança ainda. É natural que
ocorram esses solavancos. Mas esse e outros defeitos ainda podem ser
corrigidos”, concluiu.
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